
É verdade que os pedófilos serão beneficiados com as mais recentes alterações na legislação penal? É verdade que o folclore vivido em torno das prisões preventivas, mais não foi do que uma hábil forma de desviar as atenções dos cidadãos para que este assunto não fosse abordado? É verdade?
É verdade senhores deputados que votaram a nova lei? Será que chegámos ao cúmulo de viver num País onde se votam diplomas para branquear situações e ilibar culpados? É verdade? Será que existem políticos de tal modo comprometidos com actos imorais e corruptos, ao ponto da Assembleia da República ter tais atitudes? E se não é verdade porque se cala a Assembleia face à suspeita que vem sendo levantada? Os deputados não ouviram Marcelo Rebelo de Sousa, na RTP? E não respondem? Não há uma honra a ser defendida? O que se passa senhores deputados? De que têm medo?
Eu sou um assumido republicano, amante da liberdade. Conservador convicto, é certo, patriota sem qualquer hesitação, mas sempre um acérrimo defensor dos valores da igualdade perante a lei e da justiça. E por isso tenho uma imensa tristeza perante a galopante agonia da Democracia. A democracia está efectivamente em estado de agonia e por este andar entrará em coma, sem que ninguém, ou poucos, com isso se ralem.
Há quem diga que este é nosso destino, o nosso fado, e que noutras e em semelhantes circunstâncias já vivemos. A democracia, proclamam alguns, casa mal com o nosso país. Terá sido assim na monarquia constitucional, até à revolução do 5 de Outubro; foi assim entre 1910 e a revolução do 28 de Maio e agora, não fora a pertença à União Europeia, tudo apontaria para um possível golpe de Estado que trouxesse ordem na desordem evidente do regime, provocada pela óbvia falência do actual sistema de governo.
Todavia por muitas e intranquilas afirmações que se façam, nada muda. Tudo permanece na quietude, interrompida aqui e ali por bravas e acaloradas discussões de café que nunca passam do local onde se travam. Os portugueses protestam, mas não reagem; queixam-se, mas não agem; refilam muito, mas só dão tiros de pólvora seca. Tenho pena que não exista hoje um Camilo Castelo Branco ou um Francisco Sousa Tavares, homens destemidos que não poupariam os medíocres, não seriam dóceis com os corruptos, não deixariam de denunciar o que há de pior na nossa sociedade. Na política, mas também na civil. E tenho pena, muita pena, que os estudantes e os seus dirigentes (ainda existem?), tenham desistido de ser a consciência crítica da Nação e virado as costas à luta por um Estado justo, solidário, livre. E ainda continuo a ter pena, que as vozes verdadeiramente rebeldes e sábias da Universidade se tenham deixado ultrapassar pelos eunucos do sistema, pelos burocratas de pacotilha, pelos mestres e doutores de aviário feitos tantas e tantas vezes à pressão.
Poderei ficar por aqui? Não e neste não vai uma pergunta para mim próprio: que fazer? Que fazer, quando os livres estão prisioneiros dum ordenado ao fim do mês, indispensável para o pagamento das múltiplas prestações; que fazer, quando os inteligentes e cultos, ameaçados pelos néscios e amedrontados com a possível perda do seu emprego, se quedam pelo silêncio ou pelo isolamento; que fazer, quando as “massas” estão cada vez mais fossilizadas e embrutecidas, apesar dos estéreis diplomas de licenciatura, que em grau crescente vão ostentando; que fazer, quando o povo que é povo se acovarda e simplesmente não vota ou votando continua a escolher sempre os mesmos; que fazer, quando os dirigentes, que deveriam ser escol do escol, mais não são do que figurantes maus, impreparados, rebanho de qualquer pastor que garanta pasto farto; que fazer, quando o ouro, a prata e até o bronze parecem ter desaparecido e nos surge apenas a fancaria; que fazer, quando os generais são substituídos pelos sargentos e os comandantes ultrapassados pelos cabos de esquadra. Que fazer senhores? Conspirar para uma nova revolução? Engrossar o coro dos aflitos e participar na coluna dos que diariamente se lamentam? Desistir? Recuar? Passar à “clandestinidade”, no combate a um sistema em que não acredito? Ainda não sei! Desde há muitos anos que luto por ideias e me mantenho leal a princípios políticos. Em nome dessa luta fui dirigente associativo, presidente da Juventude Centrista, deputado do CDS, presidente do CDS, fundador e presidente do Partido Popular, fundador do Partido da Nova Democracia. Ainda em nome dessas ideias, as minhas ideias, e desses princípios políticos, os meus princípios políticos, recusei cargos, ministérios, honrarias, mordomias. Não estou arrependido de nada, mas estou francamente preocupado com o desinteresse das pessoas e choca-me que a ditadura dos empréstimos bancários, as tenha castrado e mentalmente aprisionado.
Os políticos mais não são do que o resultado da vontade dos que votam e o testemunho directo dos que se abstêm. Criticar apenas os políticos e isentar o Povo das suas responsabilidades, não está mais nas minhas intenções. Em nome da Liberdade, da minha liberdade, e da lealdade que quero continuar a ter por Portugal.
Manuel Monteiro
Lisboa, 26 de Setembro de 2007
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